À luz da tradição mosaica, doutrina significa aquilo que é recebido expressamente para ensino. O corpo de doutrina é expresso pelo vocábulo hebraico “Tora” conforme se lê em Génesis 26.5: “Porquanto Abraão obedeceu à minha voz e guardou o meu mandado, os meus preceitos, os meus estatutos, e as minhas leis.” E em Isaías 1.10 lê-se: “Ouvi a Palavra do Senhor, vós os príncipes de Sodoma; prestai ouvidos à lei do nosso Deus, vós, ó povo de Gomorra.”
À luz dos vocábulos gregos significa tanto o conteúdo como o ato de ensinar. Jesus respondeu aos fariseus e disse-lhes: “A minha doutrina não é minha, mas daquele que me enviou. Se alguém quiser fazer a vontade dele, pela mesma doutrina conhecerá se ela é de Deus ou se falo de mim mesmo” (Jo. 7.16,17).
As doutrinas fundamentais, devem ser conhecidas por todos os cristãos, pois constam em toda a Sagrada Escritura, “que é divinamente inspirada e proveitosa para ensinar, para repreender, para corrigir, para instruir em justiça, para que o homem de Deus seja perfeito e perfeitamente instruído para toda a boa obra” (2 Tm. 3.16,17)
Para efeito de ensino da fé as doutrinas fundamentais foram dividadas da seguinte forma:
1. Bibliologia é o estudo da formação e carácter das Escrituras; sua revelação e inspiração, seu cânon, sua veracidade e autoridade, suas divisões e mensagem.
2. Teologia é o estudo dos assuntos referentes à natureza, ao carácter e às obras de Deus.
3. Angelologia é o estudo referente à natureza e acção dos anjos, inclusive os rebeldes.
4. Antropologia é o estudo dos assuntos referentes ao homem e seu relacionamento com Deus.
5. Hamartiologia é o estudo referente à origem, extensão e consequências do pecado.
6. Soteriologia é o estudo a respeito dos vários aspectos da salvação.
7. Cristologia é o estudo acerca de Cristo; sua natureza, seu carácter e suas obras.
8. Eclesiologia é o estudo da natureza, organização, e missão da Igreja.
9. Pneumatologia é o estudo da personalidade e obra do Espirito Santo.
10. Escatologia é o estudo das últimas coisas à luz das profecias.
Fontes de Doutrina
Há três fontes de doutrina que é preciso reconhecer “para que não sejamos mais meninos inconstantes, levados em roda por todo o vento de doutrina, pelo engano dos homens que com astúcia enganam fraudulosamente” (Ef. 4.14).
1. O espírito humano.
Em Mateus 15.9 estão as palavras de Cristo acerca deste espírito enganador, assim: “Este povo honra-me com os lábios, mas o seu coração está longe de mim. Em vão me adoram ensinando doutrinas que são preceitos dos homens.” O apóstolo Paulo usa a mesma expressão para esclarecer os seus leitores sobre a influência do espírito humano (cf. Cl. 2.20 – 22). As pessoas ficam à mercê dos falsos ensinamentos, como se verdadeiros fossem, quando não dão o primeiro lugar à Palavra de Deus e não conferem as doutrinas pela mesma.
2. O espírito satânico.
Paulo também se refere a este espírito ao avisar o seu discípulo Timóteo sobre a apostasia dos últimos tempos, da seguinte maneira: “Mas o Espírito expressamente diz que, nos últimos tempos, apostatarão alguns da fé dando ouvidos a espíritos enganadores e a doutrinas de demónios, pela hipocrisia de homens que falam mentiras, tendo cauterizada a sua própria consciência” (1 Tm. 4.1,2). “Porque virá o tempo em que não sofrerão a sã doutrina; mas, tendo comichão nos ouvidos, amontoarão para si ensinadores conforme as suas próprias concupiscências, e desviarão os ouvidos da verdade voltando às fábulas;” (2 Tm. 4.3,4). “Mas temo que, assim como a serpente enganou Eva com a sua astúcia, assim também sejam de alguma sorte corrompidos os vossos sentidos e se apartem da simplicidade que há em Cristo; (2 Co. 11.3) Por conseguinte, é preciso haver cuidado com as aparências e não aceitar todas as filosofias aparentemente inofensivas. Isto só é possível pelo exame constante e aturado da Palavra de Deus.
3. O Espírito divino.
O apóstolo Pedro, à semelhança de Paulo, afirma que “a profecia nunca foi produzida pela vontade de homem algum, mas os homens santos de Deus falaram inspirados pelo Espírito Santo” (2 Pd. 1.21). Logo que homens santos falaram inspirados pelo Espírito Santo, toda a Escritura é divinamente inspirada e proveitosa para ensinar o caminho certo aos homens de Deus (2 Tm. 3.16,17).
Por conseguinte, devemos examinar diariamente as Sagradas Escrituras e conferir as nossas vidas, aquilo que ouvimos e dizemos, pelo padrão do Espírito Santo. Paulo aconselha persistência na leitura da Palavra de Deus, e ainda: “Tem cuidado de ti mesmo e da doutrina; persevera nestas coisas, porque fazendo isto te salvarás tanto a ti mesmo como aos que te ouvem” (1 Tm. 4.13,16). Na Bíblia encontramos os sábios conselhos de Deus para a nossa vida e ministério, aos quais devemos dar todo o crédito e primazia a fim de sermos sábios para a salvação.
Importância da sã doutrina
A sã doutrina é formulada por ensinamentos fiéis à Palavra de Deus, sem violar nenhum dos mandamentos. Cristo referiu-se à importância de ensinar a sã doutrina da seguinte maneira: “Qualquer, pois, que violar um destes pequenos mandamentos, e assim ensinar aos homens, será chamado o menor no reino dos céus; porém, aquele que os cumprir e ensinar será chamado grande no reino dos céus” (Mt. 5.19). Paulo adverte que o presbítero deve manter firme e fiel a palavra que é conforme a doutrina, para que seja poderoso, tanto para corrigir como para convencer os contradizentes; porque há muitos desordenados, faladores, vãos e enganadores (Tt. 1.9).
A sã doutrina é importante para os cristãos saberem que têm vida nova pela fé em Jesus Cristo. Como escreveu João: “Estes, porém, foram escritos para que creiais em Cristo e tenhais vida em seu nome” (Jo. 20.31; 1 Jo. 5.13). Nós sabemos, pela sã doutrina das Escrituras, que o amor é o cumprimento de toda a lei (Gl. 5.14). Nós sabemos que passámos da morte para a vida porque amamos os irmãos (1 Jo. 3.14). Nós sabemos que somos uma nova criação em Cristo (2 Co. 5.17). Também sabemos que somos ouvidos por Deus e que receberemos o que pedirmos segundo a sua vontade ( Jo. 5.14).
A sã doutrina é importante para os cristãos desenvolverem o carácter cristão à semelhança do seu Senhor. Se a raiz da árvore é santa também os ramos o são (Rm. 11.16. Jo. 15.1 – 7). Se o Pai é santo também os filhos o são (1 Pd. O conhecimento da sã doutrina é importante para ajudar os cristãos a repudiar as falsas doutrinas, porque haverá falsos mestres ensinando heresias de perdição (2 Pd. 2.1,2). Himeneu e Fileto perverteram a fé de alguns dizendo que a ressurreição já tinha acontecido (2 Tm. 2.17,18). Pedro advertiu que nos últimos dias muitos escarnecerão da esperança na vinda do Senhor (2 Pd. 3.3). Em nossa época estamos assistindo, com tristeza, a este desaforo.
É importante para os cristãos apresentarem claramente a mensagem da salvação. Cuidar da sã doutrina para convencer do pecado (Tt. 1.9,10). Usar a sã doutrina para salvar alguns da condenação; (1 Tm. 4.16). Ensinar a sã doutrina para haver vidas santificadas. Eis o conselho de Paulo: “Tu, porém, fala o que convém à sã doutrina. Em tudo te dá por exemplo de boas obras, na doutrina mostra incorrupção (Tt. 2.1,7). “Se alguém ensina outra doutrina, e se não conforma com as sãs palavras de nosso Senhor Jesus Cristo, e com a doutrina que é segundo a piedade, é soberbo e nada sabe, mas delira acerca de questões e contendas de palavras…; contendas de homens corruptos de entendimento e privados da verdade…”(1 Tm. 6.3 – 5).