Uma Reflexão sobre Marcos 13
No Evangelho de Marcos, capítulo 13, somos transportados para um momento crucial na jornada de Jesus. Ele está saindo do majestoso Templo de Jerusalém, uma obra arquitetônica que inspirava admiração e orgulho. Seus discípulos, maravilhados com a grandiosidade das pedras e das construções, exclamam: "Olha, Mestre! Que pedras enormes! Que construções magníficas!" (Marcos 13:1).
Essa cena nos convida a refletir sobre o que realmente valorizamos e onde depositamos nossa fé. Os discípulos, como muitos de nós, estavam impressionados com a estrutura física, com o visível e o tangível. O Templo era, para eles, o ápice da devoção, um símbolo inabalável da presença de Deus. No entanto, a resposta de Jesus a essa admiração é surpreendente e profundamente reveladora.
Com uma clareza profética, Jesus declara: "Você está vendo todas estas grandes construções? Aqui não ficará pedra sobre pedra; serão todas derrubadas" (Marcos 13:2). Essa profecia, que se cumpriu literalmente cerca de 40 anos depois com a destruição do Templo pelos romanos, não era apenas um aviso sobre o futuro de uma edificação. Era uma mensagem sobre a transitoriedade das coisas materiais e a verdadeira natureza do reino de Deus.
A admiração dos discípulos pelo Templo era compreensível. Era uma construção imponente, fruto de anos de trabalho e dedicação, um lugar de sacrifícios e orações, o centro da vida religiosa judaica. Para eles, a solidez e a beleza do Templo representavam a estabilidade e a glória de Deus. Contudo, Jesus, com sua visão divina, enxergava além das pedras e da arquitetura. Ele via a superficialidade de uma fé que se apegava mais ao exterior do que à essência.
A profecia de Jesus sobre a destruição do Templo não foi um ato de desvalorização das estruturas. Pelo contrário, ela apontava para uma verdade mais profunda: a presença de Deus não está limitada a edifícios feitos por mãos humanas. O próprio Jesus é o verdadeiro Templo, o lugar onde Deus habita plenamente e onde a verdadeira adoração acontece. Ele é a ponte entre o céu e a terra, a manifestação visível do invisível Deus.
Essa mensagem ressoa poderosamente em nossos dias. Vivemos em uma sociedade que muitas vezes supervaloriza as aparências, as conquistas materiais e as estruturas visíveis. Construímos templos grandiosos, organizamos eventos impressionantes e criamos sistemas complexos, buscando expressar nossa fé e atrair pessoas. E, de fato, estruturas são necessárias. Elas oferecem um lugar para a comunidade se reunir, para o ensino da Palavra, para a celebra celebração da fé e para o serviço ao próximo. Elas podem ser ferramentas valiosas para o avanço do Reino de Deus.
No entanto, a advertência de Jesus permanece: "Aqui não ficará pedra sobre pedra". Se a nossa fé se apoia apenas nas estruturas, nas tradições, nos rituais ou nas aparências, corremos o risco de ver tudo desmoronar. A verdadeira força e o verdadeiro valor não residem no que é visível e perecível, mas na presença viva de Jesus em nossos corações e em nossa comunidade.
A mensagem central de Marcos 13, no contexto da saída de Jesus do Templo, é que, embora as estruturas sejam importantes, elas são secundárias à presença de Jesus. Não é o mármore ou o ouro que dão significado ao templo, mas a presença do Santo. E hoje, o Santo habita em nós, por meio do Espírito Santo, e em nossa comunidade, quando nos reunimos em Seu nome.
Que possamos, portanto, admirar as "pedras e construções" que nos cercam, mas que nossa admiração e nossa fé estejam firmemente alicerçadas em Jesus Cristo. Que Ele seja o centro de nossas vidas, de nossas igrejas e de todas as nossas "estruturas". Pois, no final, não são as construções que permanecem, mas a Palavra de Jesus e a vida que Ele nos oferece.
Reflexão: Onde você tem depositado sua maior admiração e confiança? Nas estruturas visíveis ou na presença viva de Jesus?
Samuel Carvalho