Por Que Ser Melhor que os Fariseus é Essencial para o Reino
À primeira vista, o desafio parece impossível. Afinal, os escribas e fariseus eram a elite religiosa da época, os "super-crentes" que dedicavam suas vidas ao estudo da Lei e à observância de cada mandamento e tradição. Eles eram os mestres do saber teológico, conhecedores das Escrituras "de cor e salteado". Se a justiça deles não era suficiente, o que Jesus estava exigindo de Seus seguidores?
A resposta não está em fazer mais, mas em fazer de forma qualitativamente diferente.
A Piedade de Fachada: O Erro dos Escribas e Fariseus
O problema central da justiça farisaica era a sua motivação e o seu foco. Eles eram mestres na aparência e na performance. Como você bem observou, muitos cultivavam a hipocrisia e a egolatria.
A preocupação primária era o louvor humano, os "aplausos e elogios" que vinham da observância pública. Eles se concentravam na letra da Lei, transformando a obediência em um meio de autojustificação e ostentação, negligenciando o espírito da Lei: o amor, a misericórdia e a sinceridade.
Exemplos Bíblicos da Hipocrisia Farisaica
Jesus expôs essa hipocrisia de forma contundente, especialmente em Mateus 23, onde Ele profere uma série de "ais" contra eles:
•O Dízimo e o Essencial: Eles eram meticulosos em dar o dízimo até das menores ervas (hortelã, endro e cominho), mas negligenciavam os preceitos mais importantes da Lei: o juízo, a misericórdia e a fé (Mateus 23:23). Eles se preocupavam com o detalhe financeiro, mas ignoravam a justiça social e a compaixão.
•Aparência Externa: Jesus os comparou a sepulcros caiados (Mateus 23:27). Por fora, pareciam justos e piedosos, mas por dentro estavam cheios de ossos de mortos e de toda imundície. A justiça deles era uma fachada, um exterior limpo que escondia um interior cheio de avareza e falta de amor.
•Oração e Jejum para Serem Vistos: Eles oravam nas praças e jejuavam com rostos desfigurados para que os homens os vissem (Mateus 6:5, 16). A recompensa deles era o aplauso humano, e não a aprovação de Deus.
A Revolução da Justiça: O Que Significa "Exceder"
A palavra grega para "exceder" é perisseuo, que significa ir além, ser abundante, sobejar. Jesus não estava pedindo um legalismo ainda mais rigoroso, mas uma transformação radical que atinge a raiz do nosso ser.
A justiça que excede é aquela que se manifesta em três dimensões essenciais:
1. O Coração: Sinceridade Acima da Aparência
Jesus move o foco da ação externa para a intenção do coração. Não basta não matar; é preciso não ter raiva do irmão (Mateus 5:21-22). Não basta não cometer adultério; é preciso não cobiçar no coração (Mateus 5:27-28).
A sinceridade é a antítese da hipocrisia farisaica. A justiça do Reino exige pureza de intenção, onde a motivação para a obediência é o amor a Deus, e não o desejo de ser visto ou elogiado pelos homens.
2. A Prática: Ação Genuína, Não Ostentação
A justiça superior exige que a Palavra de Deus seja incorporada na vida diária. Não basta o conhecimento profundo; é preciso que ele se traduza em prática sincera.
O praticante desta justiça não busca os aplausos, mas age com o único propósito de glorificar a Deus em todas as áreas da vida. É a substituição da busca pelo status pessoal pela busca pela honra divina.
Exemplos Bíblicos de Vida Autêntica
A vida autêntica, que excede a justiça farisaica, é marcada por ações que refletem a transformação interna:
•A Viúva Pobre: Enquanto os ricos depositavam grandes ofertas no templo, a viúva pobre deu tudo o que tinha, duas pequenas moedas (Marcos 12:41-44). Sua justiça excedeu a deles porque sua motivação era a devoção total, e não a ostentação.
•O Bom Samaritano: Ele não era um sacerdote ou levita (os religiosos da época), mas agiu com misericórdia e compaixão para com o homem ferido, cumprindo o espírito da Lei (Lucas 10:30-37). Sua prática excedeu a justiça dos que apenas conheciam a Lei.
•A Mulher Samaritana: Seu encontro com Jesus resultou em uma transformação imediata e em um testemunho genuíno que levou toda a sua cidade a crer (João 4:28-30). Sua vida, antes de hipocrisia, tornou-se um exemplo de sinceridade e fruto do Reino.
3. A Fonte: A Graça de Cristo
O ponto crucial é que a justiça que excede não é uma justiça que fazemos, mas uma justiça que recebemos.
Reconhecendo a impossibilidade humana de alcançar a perfeição legalista, somos convidados a receber a justiça de Cristo imputada a nós pela fé (Romanos 3:21-22). É a partir dessa transformação interna, operada pela graça, que podemos viver uma vida de devoção genuína, que verdadeiramente excede a justiça meramente externa e hipócrita.
Conclusão: O Desafio do Reino
O desafio de Mateus 5:20 é um convite para uma vida de autenticidade radical. É a substituição da egolatria (o culto ao eu) pela teolatria (o culto a Deus), do legalismo pela vida no Espírito.
Se a sua vida religiosa se resume a regras e aparências, você corre o risco de ter a mesma justiça dos fariseus. Mas se a sua fé nasce de um coração transformado pela graça, manifestando-se em prática sincera e buscando a glória de Deus, então a sua justiça, de fato, excede.
Pr. Samuel Carvalho
AD Belém - Vila Virginia - Ribeirão Preto