Em nossos ministérios e comunidades, com que frequência nos deparamos com a tarefa de escolher líderes, obreiros e representantes? Naturalmente, nosso instinto humano, treinado pelo mundo, nos leva a procurar os mais qualificados. Buscamos o carisma, a boa oratória, a aparência imponente, o currículo de sucesso. Montamos um "perfil ideal" e tentamos encontrar quem se encaixe nele.
Mas, será que essa é a metodologia de Deus?
A Bíblia nos mostra, repetidamente, que os critérios de Deus são radicalmente diferentes dos nossos. Nós olhamos para a embalagem; Deus sonda o conteúdo. Nós vemos a capacidade; Ele vê a disponibilidade e o coração.
O Engano na Casa de Jessé
Um dos exemplos mais claros dessa verdade está na unção do rei Davi. O profeta Samuel, um dos homens mais íntimos de Deus em sua geração, foi enviado à casa de Jessé para ungir o futuro rei de Israel. Ao ver o primogênito, Eliabe — alto, forte, com a aparência de um guerreiro —, Samuel pensou consigo mesmo: "Certamente está perante o Senhor o seu ungido." (1 Samuel 16:6).
A resposta de Deus a Samuel é uma lição para toda a história da Igreja:
"Porém o Senhor disse a Samuel: Não atentes para a sua aparência, nem para a altura da sua estatura, porque o tenho rejeitado; porque o Senhor não vê como vê o homem. Pois o homem vê o que está diante dos olhos, porém o Senhor olha
para o coração." (1 Samuel 16:7)
Samuel, o grande profeta, quase se enganou ao usar a lógica humana. Ele foi cativado pela aparência, pelo que os olhos podiam ver. Enquanto isso, o escolhido de Deus não estava nem mesmo na "seleção" inicial. Davi, o mais novo, estava no campo, cuidando das ovelhas — um trabalho humilde, longe dos holofotes. Deus não procurava um rei pronto, mas um coração segundo o d'Ele.
A Lógica Divina da Fraqueza
Essa não é uma história isolada. É um princípio divino. O apóstolo Paulo explica essa lógica de forma poderosa, para que ninguém se orgulhe em sua própria força ou capacidade:
"Mas Deus escolheu as coisas loucas deste mundo para confundir as sábias; e Deus escolheu as coisas fracas deste mundo para confundir as fortes. E Deus escolheu as coisas vis deste mundo, e as desprezíveis, e as que não são, para aniquilar as que são; para que nenhuma carne se glorie perante ele." (1 Coríntios 1:27-29)
Deus deliberadamente escolhe o "improvável" para que, quando a obra for realizada, ninguém possa aplaudir o instrumento, mas sim a Mão que o utilizou. Quando escolhemos alguém com base em sua própria força, corremos o risco de que a glória seja dividida. Mas quando Deus capacita o fraco, o improvável, o que "não é", a glória é exclusivamente d'Ele.
Um Chamado à Reflexão
Isso nos desafia diretamente:
Estamos em nossos ministérios procurando os "Eliabes", aqueles que impressionam à primeira vista, enquanto os "Davis" estão esquecidos no campo?
Valorizamos mais um discurso eloquente do que um coração quebrantado e um espírito servo?
Desqualificamos pessoas porque não se encaixam em nossos moldes de sucesso, aparência ou influência?
Você mesmo se sente desqualificado por olhar para suas fraquezas? Talvez seja exatamente aí que Deus deseja operar.
Que possamos pedir a Deus olhos para ver como Ele vê. Que Ele nos livre de sermos enganados pela aparência e nos dê a sabedoria para discernir os corações que Ele já escolheu. A força do ministério não está na capacidade dos escolhidos, mas no poder Daquele que escolhe.
Samuel Carvalho
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