Eliú, cujo nome significa "Ele é meu Deus", permaneceu em silêncio durante os longos e ásperos debates entre Jó e seus três amigos, Elifaz, Bildade e Zofar. Ele demonstrou um respeito notável por seus mais velhos, ouvindo atentamente cada argumento. No entanto, sua paciência não era sinônimo de concordância. Pelo contrário, seu silêncio foi um período de discernimento, no qual percebeu a falha fundamental nas palavras dos consoladores de Jó.
Quando finalmente se pronuncia, a partir do capítulo 32 do Livro de Jó, sua ira se acende não apenas contra Jó, por sua autojustificação, mas também contra os três amigos, "porque, não achando eles o que responder, todavia condenavam a Jó" (Jó 32:3). Eliú repreendeu-os por suas acusações simplistas e cruéis, que associavam diretamente o sofrimento de Jó a um pecado oculto. Ele rompeu com a teologia da retribuição estrita que eles defendiam, introduzindo uma perspectiva mais nuançada.
A sabedoria de Eliú não se baseava na idade, mas, como ele mesmo declara, no "espírito no homem, e a inspiração do Todo-Poderoso o faz entendido" (Jó 32:8). Ele argumentou que o sofrimento poderia ser uma forma de disciplina e instrução divina, um meio pelo qual Deus fala aos seres humanos para livrá-los da soberba e aproximá-los de Si. "Deus fala de um modo, e ainda de outro, se o homem não o percebe", afirma Eliú, sugerindo que as provações podem ser um canal de comunicação divina (Jó 33:14).
Diferentemente dos outros amigos, Eliú não se concentrou em acusar Jó de pecados passados. Em vez disso, com um tom mais equilibrado, ele corrigiu a atitude de Jó em sua provação. Ele apontou que, em sua dor, Jó havia se tornado justo a seus próprios olhos, a ponto de questionar a justiça do próprio Deus. Com firmeza, mas sem a dureza dos outros, Eliú defendeu a soberania e a retidão de Deus, lembrando a Jó da incomensurável grandeza do Criador.
A intervenção de Eliú representa um ponto de virada no livro. Ele prepara o caminho para a manifestação do próprio Deus, que fala a Jó a partir de um redemoinho. Suas palavras, embora não isentas de falhas aos olhos de algumas interpretações, oferecem uma teologia mais sofisticada e compassiva do que a de seus predecessores no diálogo.
A figura de Eliú nos deixa uma lição atemporal sobre a importância da escuta paciente, do discernimento espiritual e da coragem de falar a verdade com equilíbrio, mesmo quando se é o mais jovem ou o menos experiente. Ele nos ensina que a verdadeira sabedoria não reside na pressa em julgar, mas na busca humilde por uma compreensão mais profunda dos caminhos de Deus, especialmente nos momentos de maior aflição.
Afinal é necessário procurar compreender antes de julgar.
Samuel Carvalho